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Número 33 - Dezembro 2019

“South”

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Desde abril de 2019, Yves Gerster é o Chief Financial Officer do grupo Dufry.

South, publicado em 1919, é o relato de Ernest Shackleton sobre o 'Endurance', sua terceira expedição ao Polo Sul e provavelmente uma das mais emocionantes. Conta a história do naufrágio do Endurance e os esforços de Shackleton e da tripulação para sobreviver.

Longe do épico desta expedição do início do século XX, Yves Gerster, CFO do Grupo Dufry, navega nos mares agitados dos mercados financeiros hoje em dia e nesta entrevista nos conta um pouco sobre seu passado, como ele conseguiu se tornar nosso CFO e o cenário complexo que ele está lidando em seu novo papel.

Sem dúvida, 2019 será um ano de que você vai se lembrar. Depois de 13 anos na Dufry em diversos cargos, você progrediu e se tornou o CFO do grupo. Quais foram os principais destaques desses anos?
Para mim, pessoalmente, os destaques fundamentais foram todos os projetos, muito especialmente as aquisições. Se eu tivesse que indicar uma em especial, ela seria provavelmente a da Grécia, em 2012. Tivemos de trabalhar com uma estrutura complexa, com muitos elementos que tinham de ser orquestrados sem falhas para poder funcionar. Do ponto de vista financeiro, isso implicou diversos acordos de financiamento locais e globais, numerosos obstáculos regulamentares, uma avaliação inicial pelas agências Moody’s, Fitch e Standard and Poor’s e muitos outros elementos. Ao mesmo tempo, nós tivemos de convencer os bancos financiadores e outras partes interessadas de que um investimento na empresa grega no pico da crise na Grécia era realmente uma boa ideia. Olhando para trás, agora todos nós sabemos que foi realmente uma ideia brilhante!

Os mercados parecem estar vivendo tempos estranhos. A guerra comercial, o Brexit, a desvalorização da moeda e a incerteza política aqui e ali, entre muitos outros fatores, não proporcionam o “melhor dos mares para navegar”. Como foram os primeiros 9 meses como CFO da Dufry?
Existem, de fato, muitos desafios, mas, efetivamente, é isso que define um ótimo mar para navegar. Se você está esperando uma calmaria, a Dufry não será provavelmente o melhor lugar para estar. Eu acredito que nada é absolutamente bom ou mau. Na maior parte dos casos, algo que à primeira vista parecia ser uma ameaça pode, na realidade, ser visto como uma oportunidade. Você referiu o Brexit: esse é talvez o melhor exemplo do que acabo de dizer. Com efeito, a atual discussão em volta do Brexit representa alguns riscos para a empresa. A libra esterlina pode desvalorizar, o que se traduzirá por um comportamento diferente dos passageiros britânicos. Porém, existem também duas vantagens potenciais. Viajar para o Reino Unido e sobretudo gastar mais dinheiro no Reino Unido pode tornar-se mais atraente para os viajantes que visitam o país – aliás, foi exatamente o que aconteceu há dois anos atrás, quando foi anunciado pela primeira vez o resultado do referendo. A segunda vantagem, bem mais importante, está relacionada com os impostos. Depois do Brexit se concretizar, todas as vendas geradas por passageiros viajando da UE para o Reino Unido e vice-versa passarão a ser vendas duty-free. Isso terá um efeito positivo imediato em nossa rentabilidade.

Todos os indicadores econômicos estão apontando para uma desaceleração econômica.  A Dufry está preparada para esse cenário?
Eu ainda não estou totalmente convencido de que a economia global entrará em recessão nos próximos 12 a 24 meses. É um fato que os dados econômicos são fracos e que poderemos assistir a alguns trimestres com crescimento muito baixo. No entanto, acredito que podemos ter atingido o ponto mais baixo. Um aspeto fundamental continua sendo a guerra econômica entre os EU e a China. O modo como ela irá evoluir nos próximos trimestres constitui o risco mais importante para a economia global.

Na Dufry, estamos tão preparados para esse cenário quanto possível. Existem dois fatores importantes a serem mencionados. Em primeiro lugar, temos uma estrutura de custos muito flexível, que minimiza o efeito de uma desaceleração das vendas na lucratividade. O segundo elemento é nossa abordagem financeira disciplinada ao entrar em novas oportunidades, sejam novas concessões ou aquisições. Damos grande importância ao retorno, controle dos custos e geração de caixa. Mesmo em um cenário de retração, existem algumas iniciativas de autocura que podemos lançar para atenuar parte do risco. Finalmente, com nossa presença global, estamos menos expostos aos impactos locais ou regionais. Um abrandamento em uma região tem um impacto relativamente baixo no grupo. Normalmente, quando algo assim acontece, nós conseguimos compensar um volume de vendas baixo em um país com vendas adicionais em outras localizações.

Acima de tudo, você continua a tarefa de educar o mercado em nossos negócios, especialmente com os padrões contábeis. Na sua opinião, quais são as métricas que um CFO deve monitorar sempre em uma empresa como a Dufry?
Para mim, sempre foi o dinheiro. Talvez eu seja um pouco tendencioso, porque durante muitos anos trabalhei como tesoureiro. A contabilidade é obviamente importante, não há dúvida. No entanto, ela representa uma interpretação da realidade. Você pode sempre encontrar várias interpretações da mesma questão e, na realidade, nenhuma dessas interpretações está efetivamente errada. Com o dinheiro, é diferente: ele é concreto.

O negócio operacional foi sempre um gerador de caixa muito forte. Uma vez que não possuímos quaisquer unidades de produção, P&D ou outros elementos estruturais próprios com investimento de elevadas quantias na atividade operacional, nós sempre geramos elevadas quantias em dinheiro. Assim o KPI mais relevante que estamos apresentando aos mercados financeiros é provavelmente o fluxo de caixa livre próprio. Atualmente, o grupo está gerando cerca de CHF 350m-400m a cada ano.

Qual é seu maior desafio nesse momento?
Gerenciar as expetativas dos mercados financeiros. Os investidores, os analistas e a imprensa em geral parecem ter dificuldade em entender todos os aspetos do nosso modelo de negócios. Às vezes, somos confrontados com argumentos que carecem de base. E também vemos, por exemplo, analistas que tentam "construir uma história" com base em questões que consideram ter impacto nos negócios, mas, na realidade, não. Um dos desafios é o fato de ser provavelmente difícil para a comunidade financeira classificar-nos ou colocar-nos em uma categoria específica. Estamos na encruzilhada entre varejo, turismo e luxo. Além disso, torna-se difícil para o mercado encontrar pares que permitam uma comparação do nosso desempenho com o de outras empresas. A razão é que, mesmo que analisemos o nosso setor e os nossos concorrentes, há diversos fatores que definem diferenças nítidas entre cada um dos participantes. Alguns deles são propriedade privada e não fornecem quaisquer informações sobre o seu desempenho; outros fazem parte de um aglomerado maior, que também não fornece dados a esse nível de detalhe; outros ainda têm modelos corporativos diferentes, por exemplo, como os coreanos, com maior enfoque em operações no centro das cidades. Todos esses fatores dificultam a comparação da Dufry e nossas realizações com outros varejistas de viagem.

O que você acha que é necessário para se tornar um CFO? Não apenas na Dufry, mas em termos gerais.
Eu acho que isso depende realmente da empresa. E isso se aplica não só ao cargo de CFO mas, é claro, também a muitos outros. Eu fui tesoureiro da Dufry ao longo de mais de uma década. Durante esse período nós concluímos diversas aquisições de envergadura, que tiveram de ser financiadas com dívida. Na qualidade de tesoureiro, eu me tornei especialista em acordos de financiamento complexos. Além disso, eu tinha uma interação regular com os mercados financeiros, nomeadamente bancos, investidores e outras partes interessadas. Esses antecedentes constituíram um dos motivos que levaram a minha passagem a CFO, pois ampliou a minha experiência e permitiram que eu me preparasse para uma das mais importantes responsabilidades de um CFO: interagir com todas as partes interessadas do setor financeiro, muito além das atividades de mera tesouraria.

A sustentabilidade, e particularmente tudo o que se relaciona com as alterações climáticas parecem ser uma prioridade absoluta na maior parte das empresas em todo o mundo. Qual é a sua opinião e qual a posição da Dufry relativamente a esta questão?
Já fizemos muito nessa área, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. É importante entendermos devidamente o Zeitgeist (“espírito dos tempos”) e satisfazermos as necessidades dos nossos clientes e acionistas. Quando falamos com os mercados, recebemos cada vez mais perguntas sobre esse tema. É para nós fundamental darmos uma contribuição significativa para as sociedades e ambientes em que operamos.

Além disso, é importante entender que hoje em dia o termo Responsabilidade Social Empresarial ultrapassa os meros aspetos sociais e ambientais a que estávamos habituados no passado. Nosso enfoque é colocado em outras questões, como saúde e segurança, governança empresarial, conformidade e diversidade, para citar apenas alguns exemplos. Portanto, precisamos estar cientes e alinhados com os requisitos atuais e futuros desse tipo, pois há um número crescente de investidores focando nesses tópicos, antes de tomar uma decisão de investimento.

Fale-nos um pouco de si: o que gosta de fazer quando está fora do escritório? Alguma grande paixão ou aversão?
Aversões, nem tanto. Embora, decididamente, eu não gostaria de ver você colocando uma aranha enorme no meu escritório!

Nos meus tempos livres eu gosto de viajar. Para mim, uma viagem começa com o planejamento, que no meu caso costuma levar muito tempo. Eu raramente fico em um único lugar e planejo viagens de carro a regiões remotas, longe das multidões. Você pode me encontrar fazendo caminhadas na Engadina, na Suíça, ou nos Dolomitas, na Itália. Também amo os desertos africanos e o Atacama, na América do Sul. Dada a minha paixão por paisagens extensas, também adoro ir até ao norte da Escandinávia durante o inverno. Seja nas montanhas cobertas de neve combinadas com o profundo mar azul da Noruega, ou na Lapônia finlandesa coberta de metros de neve em pó - esses são os lugares que eu gosto de passar meu tempo. Sou um fotógrafo entusiasmado e há muitas oportunidades para tirar ótimas fotos nesses lugares.

Em um minuto:

Uma comida: Sushi e, num dia frio de inverno na Suíça, uma deliciosa fondue de queijo suíço.

Um livro: Uma seleção de poesia de Rainer Maria Rilke

Uma cidade: Londres

Um filme: Queime Depois de Ler, dos irmãos Coen

Um hobby: Fotografia  

Um líder: Ernest Shackleton – sua expedição para atravessar a Antártida falhou. O navio afundou, depois de ter ficado preso no gelo durante sete meses. O grande feito de Shackleton foi manter a motivação da tripulação enquanto viviam sobre uma concha de gelo flutuante e ele fez 1300 km num pequeno barco salva-vidas até à Geórgia do Sul para procurar ajuda. Todos os homens sobreviveram.

Um aeroporto: O Aeroporto Internacional de Carrasco, Montevidéu (Uruguai). De longe o aeroporto mais belo do mundo!

Por Renzo Radice

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